16 de fev. de 2011

Crazy I just can't sleep I'm so excited I'm into deep

Uma vez por semana eu penso em Hamlet e é sempre algo um pouco chique.

Dessa vez eu estava fumando um cigarro matinal às oito e algo da manhã no caminho para a faculdade... muito glamouroso...

Na década de 80, no Rio de Janeiro, o estudante de música Rafael Alvorada foi dianosticado como o primeiro paciente de uma síndrome até então desconhecida, que faz o indivíduo sentir o peso de um objeto múltiplas vezes a mais do que o objeto de fato possui, e consequentemente se sente muito mais cansado por segurar o objeto.

Isto começou a ser um incômodo porque Rafael, estudante de violino, tinha a sensação de estar movendo uma bigorna, no lugar do seu violino, cada vez que o locomovia para as classes - isto era o que dizia ao seu psiquiatra, o prestigiado Dr. Dourado. Assim nasceu, então, a Síndrome da Bigorna.

(Bigorna e violino, coisas diferentes)

Rafael não foi a primeira vítima da patologia e um estudo foi desenvolvido pela equipe do Centro de Enfermidades Psiquiatricas da PUC-Rio, que resultou na publicação do livro Síndrome da Bigorna: História, diagnóstico e cura, uma luta. Atualmente, um grupo de pesquisa coordenado por Dr. Dourado, agora um respeitoso senhor de idade, continua em atividade na PUC com vínculos com a UFMG e Unicamp.

O tratamento principal da síndrome, nos últimos dez anos, consiste em hipnotizar o paciente, de forma a induzi-lo a pensar que de fato os objetos possuem o peso de uma bigorna, mas que, se o invididuo vê bigornas onde não existem ("Mas eu as vejo, elas existem!", é a reação insistente em 87% casos, aponta o estudo), se sente o peso de bigornas em objetos, então ele também pode possuir a força de administrá-las. Em casos de rejeição, aconselha-se o polêmico uso de eletrochoques.

Hoje em dia, Rafael é um respeitado músico da Orquestra Sinfônica do Rio de Janeiro. Mora com a esposa e sua filhinha, a Jéssica Ângela. Nunca foi totalmente curado da patologia, mas não possui ressentimentos. "Devo a ela grande parte do meu talento!", lançou numa entrevista na revista Amantes Musicais, em janeiro de 2011. A esposa e o filho raramente faltam a uma apresentação sua. E sempre choram.

...

Eu não entendo bem por que motivo, voltando ao assunto, Ofélia enlouquece em Hamlet. É um pouco insensato. Não existe algo em seu comportamento que indique traços de loucura ou apatia, ela é metafisicamente saudável e bonitinha. Mas por algum motivo obscuro, misterioso e sem propósito, ela pira.

Pra mim, pelo menos hoje, às oito e algo da manhã no caminho etc..., eu vi a morte de Ofélia como o maior ponto de falha do universo. Algo elegantemente posto embaixo do tapete para evitar constrangimentos. Mas ele está lá, cena VII, final do ato IV, e eu garanto que não é muito sexy.