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Áries. São escritores de presença. Escritores arianos, porque cheios de si, vão longe quando começam a ver as próprias manias e egolatria de forma exagerada e/ou humorística (Nabokov, Camille Paglia) (o que no fundo estão dizendo é: você que disse que eu não deveria ser assim, agora me veja sendo mil vezes assim.)
Comparação musical: Lady Gaga, triunfante, de ganso, no clipe de Applause.
Quando não conseguem, continuam sendo vozes autoritárias (Tarkovsky), com carão (Duras), mas frequentemente de pouca empatia (Baudelaire) e muita falcatrua (Lacan, Daniel Mendelsohn.)
Comparação televisiva: Xuxa chorando no Fantástico.
Touro. Escritores com grande capacidade de consumir e produzir informação (o que normalmente coincide com o tema principal deles), uma ficção volumosa, exibida e inteligente (José de Alencar, Pynchon, Quignard, Bolaño) mas não raro saudável demais e pouco demente (Nussbaum, Amos Oz, os supracitados na juventude). Taurinos escrevem melhor e dão um duplo twist carpado no resto do horóscopo quando começam a pirar (Shakespeare, Freud, Douglas Sirk), o que normalmente não é bom pra eles mas legal pra nós.
Variação: grandes sensualistas (Rubem Fonseca, Hollinghurst, Cavafy.)
Gêmeos. Os mais cerebrais, mitomaníacos, impostores e manipuladores (Mann.) Mas um argumento maior poderia mostrar o quanto imposturas e manipulações são os instrumentos e fins mais relevantes e invariáveis de toda literatura mais ou menos de todo lugar do mundo. Geminianos carregam uma reputação ruim, entre outros, de frios (Fassbinder), histéricos (Joyce Carol Oates), cínicos (Machado de Assis), duplos (Pessoa), mas nada disso é verdade ou importante logo que você se dá conta de que é a classe astrológica mais preocupada e descaradamente afetuosa com a humanidade (supracitados, Whitman, Pamuk, Tóibín, Laerte.)
Câncer. Os mais fofinhos, simples e acolhedores, escrevem como se estivessem convidando você pra ir na casa deles brincar embaixo das cobertas. Gostam de ambientes com luz baixa e verbos da intimidade: roncar, bocejar, fazer cócegas. O livro de um canceriano tem sempre algo a ser resolvido com o útero materno, um problema que é normalmente apresentado em três variações: uma obra que é uma projeção do útero materno (Proust), uma busca irreconciliável pelo útero materno (Kafka) ou uma apreciação do útero materno em diversos níveis (Bergman). O narrador-protagonista, no que é invariavelmente o melhor e mais sincero momento do livro, explode numa cena que é ao mesmo tempo infantil, inocente e empática (Lima Barreto, Lísias).
Libra. Existe uma urgência de originalidade e de rebelião em livros de librianos, não porque sejam naturalmente mal criados, mas porque são educados demais (Rimbaud, Eliot.) Librianos estão no seu melhor quando, fatigados de quererem ser mal criados, começam a avacalhar sem perder a polidez ou a zoar com a noção de educação (Wilde, Gore Vidal, Charles Dantzig, Mario de Andrade), explicação pela qual librianos são bons organizadores de jantares e socialites profissionais. Macunaíma: um personagem insolente, irrefreável, contado numa voz medida, que pode ser interpretada como avacalhada, medrosa ou um pouco dos dois, impossível de saber.
Escorpião. Os diabinhos que amamos amar. São os mais cheios de charme e sedução (em variações do exemplo óbvio, Drácula), incisivos (Zadie Smith), dramáticos (Visconti) e dementes (D’Aurevilly.) Existem dois tipos de escorpião: tipo um, o que quer convencer você a se identificar com situações, sistemas de mundo ou personagens monstruosos (DeLillo), então você se sente também todo monstruoso e sombrio e tal. Tipo dois é o que, monstro depois de décadas, já transformou a própria paixão numa piada (Plath, Dostoiévski com barba de papai noel e sexagenário dos Irmãos Karamazov), o que normalmente é deixado de lado pelos jurados.
Uma pesquisa mostraria um sub-tipo de escorpião que, não tendo conseguido ser o sedutor que imaginava, transforma-se num misantropo suicida (Campos de Carvalho.)
Sagitário. Quando produtivos, os mais livres, anti-acadêmicos, brilhantes e irresponsáveis (Genet, Clarice Lispector, Guillaume Dustan.) São livros que deixam uma impressão de que não foram acabados, de autores que ficaram com preguiça de terminar e não ligaram de como foram editados. Sagitarianos gargalham do conhecimento meta-enciclopédico do taurino, da polidez artificial do libriano e da tristeza aguada do capricorniano. O problema e charme do sagitariano é a preguiça. Mas, quando o potencial é posto em prática, conhecem bem o buraco negro que separa a critica literária desonesta e besteirolesca do do que de fato nos emociona em literatura e em representação. Genet ciganeando na Espanha. Dustan de peruca ao vivo em rede aberta. Clarice Lispector virando cavalo no final de Perto do coração selvagem.
Aquarianos e piscianos escrevem pouco, mas aquarianas são as melhores e as mais engraçadas em cenas de sexo (Colette, Amy Tan). Capricornianos escrevem muito, publicam muito e têm contatos nas editoras. Leoninos têm uma dignidade intocável, foto com olhar obstinado para o horizonte (não vou dar exemplo). Ou são personalidades que brilham nacionalmente (Cocteau, Jorge Amado.)
Virgem. Simples e diretos (Isherwood, Bernardo Carvalho), são escritores que se sentem apesar de tudo à vontade no mundo (Goethe, Butor), calmos e ligeiramente satíricos. Virginianos gostam de listas, tipologias, sistemas (Balzac, Borges, e adivinhem quem mais) e observam o mundo como um playground que ele visita, de brinquedo em brinquedo, ou de cidade em cidade, curtindo intensamente e honrando o parque e se emocionando mas esquecendo de fazer a matrícula anual.
Um argumento mais meticuloso e com dados formidavelmente convincentes mostraria que virginianos brilham mais e melhor quando perdem as estribeiras sem olhar pra trás (Martin Amis, Nelson Rodrigues.) Comparação novelística: Carolina Dieckmann platinada de Leona em Cobras & Lagartos. Sean Connery usando guarda-chuva como arma em Indiana Jones. Michael Jackson mudando de cor. Susana Vieira.