9 de dez. de 2013

minha susan miller literária

* Este post confia totalmente em todas as datas de nascimento fornecidas pela Wikipedia *

Áries. São escritores de presença. Escritores arianos, porque cheios de si, vão longe quando começam a ver as próprias manias e egolatria de forma exagerada e/ou humorística (Nabokov, Camille Paglia) (o que no fundo estão dizendo é: você que disse que eu não deveria ser assim, agora me veja sendo mil vezes assim.)
Comparação musical: Lady Gaga, triunfante, de ganso, no clipe de Applause.
Quando não conseguem, continuam sendo vozes autoritárias (Tarkovsky), com carão (Duras), mas frequentemente de pouca empatia (Baudelaire) e muita falcatrua (Lacan, Daniel Mendelsohn.)
Comparação televisiva: Xuxa chorando no Fantástico.

Touro. Escritores com grande capacidade de consumir e produzir informação (o que normalmente coincide com o tema principal deles), uma ficção volumosa, exibida e inteligente (José de Alencar, Pynchon, Quignard, Bolaño) mas não raro saudável demais e pouco demente (Nussbaum, Amos Oz, os supracitados na juventude). Taurinos escrevem melhor e dão um duplo twist carpado no resto do horóscopo quando começam a pirar (Shakespeare, Freud, Douglas Sirk), o que normalmente não é bom pra eles mas legal pra nós.
Variação: grandes sensualistas (Rubem Fonseca, Hollinghurst, Cavafy.)

Gêmeos. Os mais cerebrais, mitomaníacos, impostores e manipuladores (Mann.) Mas um argumento maior poderia mostrar o quanto imposturas e manipulações são os instrumentos e fins mais relevantes e invariáveis de toda literatura mais ou menos de todo lugar do mundo. Geminianos carregam uma reputação ruim, entre outros, de frios (Fassbinder), histéricos (Joyce Carol Oates), cínicos (Machado de Assis), duplos (Pessoa), mas nada disso é verdade ou importante logo que você se dá conta de que é a classe astrológica mais preocupada e descaradamente afetuosa com a humanidade (supracitados, Whitman, Pamuk, Tóibín, Laerte.)

Câncer. Os mais fofinhos, simples e acolhedores, escrevem como se estivessem convidando você pra ir na casa deles brincar embaixo das cobertas. Gostam de ambientes com luz baixa e verbos da intimidade: roncar, bocejar, fazer cócegas. O livro de um canceriano tem sempre algo a ser resolvido com o útero materno, um problema que é normalmente apresentado em três variações: uma obra que é uma projeção do útero materno (Proust), uma busca irreconciliável pelo útero materno (Kafka) ou uma apreciação do útero materno em diversos níveis (Bergman). O narrador-protagonista, no que é invariavelmente o melhor e mais sincero momento do livro, explode numa cena que é ao mesmo tempo infantil, inocente e empática (Lima Barreto, Lísias).

Libra. Existe uma urgência de originalidade e de rebelião em livros de librianos, não porque sejam naturalmente mal criados, mas porque são educados demais (Rimbaud, Eliot.) Librianos estão no seu melhor quando, fatigados de quererem ser mal criados, começam a avacalhar sem perder a polidez ou a zoar com a noção de educação (Wilde, Gore Vidal, Charles Dantzig, Mario de Andrade), explicação pela qual librianos são bons organizadores de jantares e socialites profissionais. Macunaíma: um personagem insolente, irrefreável, contado numa voz medida, que pode ser interpretada como avacalhada, medrosa ou um pouco dos dois, impossível de saber.

Escorpião. Os diabinhos que amamos amar. São os mais cheios de charme e sedução (em variações do exemplo óbvio, Drácula), incisivos (Zadie Smith), dramáticos (Visconti) e dementes (D’Aurevilly.) Existem dois tipos de escorpião: tipo um, o que quer convencer você a se identificar com situações, sistemas de mundo ou personagens monstruosos (DeLillo), então você se sente também todo monstruoso e sombrio e tal. Tipo dois é o que, monstro depois de décadas, já transformou a própria paixão numa piada (Plath, Dostoiévski com barba de papai noel e sexagenário dos Irmãos Karamazov), o que normalmente é deixado de lado pelos jurados.
Uma pesquisa mostraria um sub-tipo de escorpião que, não tendo conseguido ser o sedutor que imaginava, transforma-se num misantropo suicida (Campos de Carvalho.)

Sagitário. Quando produtivos, os mais livres, anti-acadêmicos, brilhantes e irresponsáveis (Genet, Clarice Lispector, Guillaume Dustan.) São livros que deixam uma impressão de que não foram acabados, de autores que ficaram com preguiça de terminar e não ligaram de como foram editados. Sagitarianos gargalham do conhecimento meta-enciclopédico do taurino, da polidez artificial do libriano e da tristeza aguada do capricorniano. O problema e charme do sagitariano é a preguiça. Mas, quando o potencial é posto em prática, conhecem bem o buraco negro que separa a critica literária desonesta e besteirolesca do do que de fato nos emociona em literatura e em representação. Genet ciganeando na Espanha. Dustan de peruca ao vivo em rede aberta. Clarice Lispector virando cavalo no final de Perto do coração selvagem

Aquarianos e piscianos escrevem pouco, mas aquarianas são as melhores e as mais engraçadas em cenas de sexo (Colette, Amy Tan). Capricornianos escrevem muito, publicam muito e têm contatos nas editoras. Leoninos têm uma dignidade intocável, foto com olhar obstinado para o horizonte (não vou dar exemplo). Ou são personalidades que brilham nacionalmente (Cocteau, Jorge Amado.)

Virgem. Simples e diretos (Isherwood, Bernardo Carvalho), são escritores que se sentem apesar de tudo à vontade no mundo (Goethe, Butor), calmos e ligeiramente satíricos. Virginianos gostam de listas, tipologias, sistemas (Balzac, Borges, e adivinhem quem mais) e observam o mundo como um playground que ele visita, de brinquedo em brinquedo, ou de cidade em cidade, curtindo intensamente e honrando o parque e se emocionando mas esquecendo de fazer a matrícula anual.
Um argumento mais meticuloso e com dados formidavelmente convincentes mostraria que virginianos brilham mais e melhor quando perdem as estribeiras sem olhar pra trás (Martin Amis, Nelson Rodrigues.) Comparação novelística: Carolina Dieckmann platinada de Leona em Cobras & Lagartos. Sean Connery usando guarda-chuva como arma em Indiana Jones. Michael Jackson mudando de cor. Susana Vieira.  

10 de ago. de 2011

um esteta galanteador

Homesickness, John Ashbery

The deep water in the travel poster finds me
In the change as I was about to back away
From the idea of the comedy around us—
In the chairs. And you too knew how to do the job
Just right. Trumpets in the afternoon
And you first get down to business and
The barges disappear, one by one, up the river.
One of them must be saved for a promise, But no,
The park continues. There is no space between the leaves.
Once when there was more furniture
It seemed we moved more freely not noticing things
Or ourselves: our relationships were wholly articulate
And direct. Now the air between them has thinned
So that breathing becomes a pleasure, an unconscious act.
Then when you had finished talking about the trip
You had planned, and how many days you were to be away
I was looking into the night forests as I held
The receiver to my ear, replying correctly
As I always do, to everything, having become the sleeper in you.
It no longer mattered that I didn’t want you to go away,
That I wanted you to return as quickly as possible
To my house, not yours this time, except
This house is yours when we sleep in it.
And you will be chastised and purified
Once we are both inside the world’s lean-to.
Our words will rise like cigarette smoke, straight to the stars.

26 de jul. de 2011

A hora de dar um repouso ao esteta, para que ele não se canse e pare

INTERVIEWER

Your poems often have a spoken quality, as though they are monologues or dialogues. Do you try to create characters who then speak in your poems, or is this all your own voice? In the dialogues perhaps it is two aspects of your own voice that are speaking.

JOHN ASHBERY

It doesn't seem to me like my voice. I have had many arguments about this with my analyst, who is actually a South American concert pianist, more interested in playing the piano than in being a therapist. He says, “Yes, I know, you always think that these poems come from somewhere else. You refuse to realize that it is really you that is writing the poems and not having them dictated by some spirit somewhere.” It is hard for me to realize that because I have such an imprecise impression of what kind of a person I am. I know I appear differently to other people because I behave differently on different occasions. Some people think that I am very laid-back and charming and some people think I am egotistical and disagreeable. Or as Edward Lear put it in his great poem “How Pleasant to Know Mr. Lear”: “Some think him ill-tempered and queer, but a few find him pleasant enough.” Any of the above, I suppose. Of course, my reason tells me that my poems are not dictated, that I am not a voyant. I suppose they come from a part of me that I am not in touch with very much except when I am actually writing. The rest of the time I guess I want to give this other person a rest, this other one of my selves that does the talking in my poems, so that he won't get tired and stop.

(O tal link.)

24 de mai. de 2011

o que é mais interessante a respeito de um homem como Édipo?

O mais interessante sobre Édipo não é que ele queira saber o que ele é apesar de que todos lhe digam para parar, que cretinamente tentem desviá-lo do caminho. (Embora, sim, isso seja muito interessante.) Tampouco é o mais interessante nessa peça emocionante que ele seja eventualmente punido por isso. (Embora, estamos de acordo, isso também seja interessante demais.) O mais interessante é que, estando de olhos fechados para o mundo, ele conceba um mundo, muito mais convincente, revelador e grandioso do que o que ele tinha por mundo até então. Édipo tem algo como uma natureza de esteta, e pensar sobre isso me emociona, porque eu o entendo.

16 de fev. de 2011

Crazy I just can't sleep I'm so excited I'm into deep

Uma vez por semana eu penso em Hamlet e é sempre algo um pouco chique.

Dessa vez eu estava fumando um cigarro matinal às oito e algo da manhã no caminho para a faculdade... muito glamouroso...

Na década de 80, no Rio de Janeiro, o estudante de música Rafael Alvorada foi dianosticado como o primeiro paciente de uma síndrome até então desconhecida, que faz o indivíduo sentir o peso de um objeto múltiplas vezes a mais do que o objeto de fato possui, e consequentemente se sente muito mais cansado por segurar o objeto.

Isto começou a ser um incômodo porque Rafael, estudante de violino, tinha a sensação de estar movendo uma bigorna, no lugar do seu violino, cada vez que o locomovia para as classes - isto era o que dizia ao seu psiquiatra, o prestigiado Dr. Dourado. Assim nasceu, então, a Síndrome da Bigorna.

(Bigorna e violino, coisas diferentes)

Rafael não foi a primeira vítima da patologia e um estudo foi desenvolvido pela equipe do Centro de Enfermidades Psiquiatricas da PUC-Rio, que resultou na publicação do livro Síndrome da Bigorna: História, diagnóstico e cura, uma luta. Atualmente, um grupo de pesquisa coordenado por Dr. Dourado, agora um respeitoso senhor de idade, continua em atividade na PUC com vínculos com a UFMG e Unicamp.

O tratamento principal da síndrome, nos últimos dez anos, consiste em hipnotizar o paciente, de forma a induzi-lo a pensar que de fato os objetos possuem o peso de uma bigorna, mas que, se o invididuo vê bigornas onde não existem ("Mas eu as vejo, elas existem!", é a reação insistente em 87% casos, aponta o estudo), se sente o peso de bigornas em objetos, então ele também pode possuir a força de administrá-las. Em casos de rejeição, aconselha-se o polêmico uso de eletrochoques.

Hoje em dia, Rafael é um respeitado músico da Orquestra Sinfônica do Rio de Janeiro. Mora com a esposa e sua filhinha, a Jéssica Ângela. Nunca foi totalmente curado da patologia, mas não possui ressentimentos. "Devo a ela grande parte do meu talento!", lançou numa entrevista na revista Amantes Musicais, em janeiro de 2011. A esposa e o filho raramente faltam a uma apresentação sua. E sempre choram.

...

Eu não entendo bem por que motivo, voltando ao assunto, Ofélia enlouquece em Hamlet. É um pouco insensato. Não existe algo em seu comportamento que indique traços de loucura ou apatia, ela é metafisicamente saudável e bonitinha. Mas por algum motivo obscuro, misterioso e sem propósito, ela pira.

Pra mim, pelo menos hoje, às oito e algo da manhã no caminho etc..., eu vi a morte de Ofélia como o maior ponto de falha do universo. Algo elegantemente posto embaixo do tapete para evitar constrangimentos. Mas ele está lá, cena VII, final do ato IV, e eu garanto que não é muito sexy.

21 de jan. de 2011

Show me the meaning of being lonely Is this the feeling I need to walk with
A razão pela qual Shakespeare começou escrevendo tragédias sobre amor e juventude, mas só foi realmente grande com King Lear, a história por excelência do "é preciso saber a hora de deixar de ser otário", é algo que me interessa e deprime imensamente.


A carta astral de Thomas Mann, mais uma vez, mostra o sol posicionado em Gêmeos, o signo mitomaniaco por natureza e portanto o mais interessante.

Eis o que torna os protagonistas de Thomas Mann uma equipe profissional de magos, crianças que manipulam os eventos e os signos como se estivessem brincando de dominó. A mentira não é um fim em si propria, é também (além de ser um fim em si propria, porque é tão bom) uma forma de se sobrepor ao mundo, este não mais real apenas porque possui o acordo do resto da humanidade. Eu falo isso com propriedade porque etc.

A carta astral de Thomas mann, como vocês podem ver, mostra uma configuração previsivel em Vênus, ao mesmo tempo conjunto a Plutão e em quadratura com Urano, ao mesmo tempo apaixonado e elegante na propria independência e solidão.

Eis o que torna os protagonistas de Thomas Mann passionalmente obcecados sem perderem a decência de ver a vida como um trajeto que se faz sozinho, com as proprias realizações, etc. Eu falo isso com propriedade até porque li a obra completa do Thomas Mann, sabendo praticamente de cor os eventos de José e seus irmãos e me emocionando mesmo assim.

olá

A coisa mais importante na vida é nunca deixar a batata quente cair.